A Cloroquina e a Ivermectina vêm ganhando uma notoriedade inesperada desde que a pandemia pelo novo coronavírus desencadeou a incessante busca pela terapia eficaz e segura contra a COVID-19. Isso gerou a publicação de inúmeros estudos e uma enxurrada de informações disponíveis nos diversos meios de comunicação. A interpretação dessas informações e o medo da população provocados por essa nova doença promoveram a compra desenfreada desses medicamentos e estimularam a automedicação, criando uma situação alarmante no contexto da saúde pública.
Quem é o fármaco ivermectina?
A Ivermectina foi descoberta em 1975, a partir de amostras do solo de um campo de golfe, onde foram observadas substâncias antiparasitárias produzidas pela bactéria Streptomyces avermitilis. Inicialmente, essas substâncias foram denominadas de avermectinas e mais tarde de Ivermectina.
A Ivermectina (IVM) é um dos medicamentos antiparasitários de amplo espectro mais conhecido e utilizado pela medicina humana e veterinária, sob aprovação do Food and Drug Administration (FDA) para uso em infecções causadas por artrópodes (insetos, piolhos e carrapatos) e vermes (nematódeos). Além disso, tem mostrado ação antiviral através da inibição de proteína integrasse e de importinas (Impa / B1), que são responsáveis pelo transporte nuclear. Desta maneira, a inibição da Impa / B1 dificulta o transporte de proteínas virais entre o núcleo e o citoplasma do hospedeiro. Resultados satisfatórios com o uso deste medicamento em vírus DNA e RNA foram observados através de estudos in vitro, quando o fármaco foi exposto a células infectadas pelo vírus HIV, do Nilo ocidental, da encefalite equina venezuelana, da influenza, da dengue e da pseudo-raiva. Portanto, justifica-se a realização de estudos in vivo para análise dos possíveis benefícios do referido medicamento sobre infecções virais de diversas origens.
Ivermectina x Covid-19
O SARS-CoV-2 trata-se de um vírus RNA de fita simples, sendo diretamente relacionado à síndrome respiratória aguda grave e o grande responsável pela pandemia da COVID-19. Para que ocorra o processo de infecção, este vírus necessita da importina Impa / B1. Por este motivo, estudos da IVM sobre o SARS-CoV-2 estão sendo realizados, com o objetivo de demostrar o mecanismo de ação deste agente farmacológico sobre o vírus, além de se obter possíveis informações sobre a toxicidade e a dose recomendada.
No estudo pioneiro in vitro de Caly et al. (2020), foi demonstrado que células infectadas pelo novo coronavírus tiveram uma redução de 93% da replicação viral em 24 horas e redução completa da carga viral após 48 horas, quando expostas à IVM. Esse resultado sugere que a atividade inibidora do transporte nuclear da IVM foi eficaz contra SARS-CoV-2.
Os primeiros resultados são animadores, especialmente por ser um fármaco de fácil acesso, baixo custo, boa tolerabilidade e favorável perfil de segurança. Entretanto, como qualquer outro medicamento, não é inócuo e apresenta contraindicações, que incluem o emprego em crianças menores de 5 anos e em indivíduos com afecções do sistema nervoso central que possam afetar a barreira hematoencefálica.
Já foi comprovado que o SARS-CoV-2 pode provocar o aumento da permeabilidade hematoencefálica pela resposta inflamatória exacerbada e, nessas condições, o potencial neurotóxico da ivermectina deve ser considerado. Aliado a este fato, não se sabe ao certo a dose que é capaz de inibir a replicação viral sem promover toxicidade, se o uso preventivo é capaz também de reduzir a chance de uma infecção grave ou se a sua utilização apresenta indicação para todos os pacientes que venham apresentar sinais e sintomas da COVID-19, dos mais leves aos mais graves.
"... a automedicação através do empirismo ou “achismo” não deve acontecer por parte da população, pois há uma linha divisória tênue entre a dose recomendada e a dose capaz de causar danos, e cada ser é único e precisa ser avaliado de forma individual por um profissional habilitado."
Portanto, são necessários estudos mais robustos, com aplicação deste agente em seres humanos através de controle rigoroso, para melhor esclarecer a aplicabilidade clínica deste fármaco. Ademais, a automedicação através do empirismo ou “achismo” não deve acontecer por parte da população, pois há uma linha divisória tênue entre a dose recomendada e a dose capaz de causar danos, e cada ser é único e precisa ser avaliado de forma individual por um profissional habilitado. Por isso, é imprescindível procurar um profissional médico para maiores esclarecimentos acerca das possíveis modalidades terapêuticas empregadas para a COVID-19.