Durante muito tempo, o processo de aprendizagem esteve relacionado tão somente à cognição e à aquisição de conteúdos, prevalecendo a dicotomia cognição e afeto, visto que o indivíduo não era percebido em sua totalidade. Esse dualismo, no entanto, foi superado. Afeto e cognição caminham juntos, conforme demonstram as experiências de docentes, alunos, pedagogos, psicólogos e estudiosos do assunto.
A dimensão afetiva é tão importante quanto a dimensão cognitiva para a aprendizagem e, portanto, os currículos e a formação docente devem ser pensados, também, a partir desta perspectiva.
Comumente, associa-se afeto a amor, carinho, dentre outros sentimentos positivos. Afeto, no entanto, está relacionado ao verbo afetar. É tudo aquilo que nos move. Somos afetados por estímulos externos e nas relações interpessoais, a partir da nossa subjetividade, o que significa dizer que podemos ser afetados de forma positiva ou negativa. Temos sido afetados, por exemplo, pela pandemia de COVID - 19 que perdura a alguns meses.
Na relação professor/aluno, o afeto ganha uma importância significativa, pois ele tanto pode facilitar a aprendizagem quanto dificultá-la, a depender da forma como esta relação é construída. Aluno e professor afetam-se mutuamente a partir dos seus desejos, expectativas e singularidades. Essa relação também está permeada pela cultura e representações sociais, que são construídas historicamente, assim como, pela ideologia que norteia a instituição de ensino
Nos primeiros anos de vida inicia-se a relação professor/aluno, estendendo-se ao longo da vida. Não raramente, encontramos depoimentos de alunos que foram afetados por professores a abraçar profissões, ler determinados autores e lutar por determinadas causas. Da mesma forma, encontramos relatos de professores que encontraram em alunos a motivação para irem além dos currículos preestabelecidos.
Pensar no afeto enquanto elemento intrínseco ao processo de aprendizagem é, também, pensar em saúde mental, uma vez que quando a relação entre professor e aluno é conflituosa, ela pode tornar-se aversiva para ambos e o processo de ensino/aprendizagem torna-se desmotivante e difícil. Por outro lado, se a relação é de confiança e respeito, as dificuldades que porventura surjam, são superadas de forma mais tranquila.
Os espaços físicos ou virtuais, voltados para a aprendizagem, em qualquer nível de escolaridade, devem ser pensados como possibilidades de descobertas e trocas, onde as diferenças sejam acolhidas e respeitadas, pois ensino e aprendizagem estão para além de transmissão e aquisição de conteúdos. Conforme Paulo Freire escreveu, sabiamente, “Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo”.
A forma como somos afetados é sui generis, visto que somos únicos, porém o que dá sentido à vida é o movimento constante de afetarmos e de sermos afetados e transformados. Voltar a atenção para tudo aquilo que nos afeta é um caminho para o autoconhecimento.