“Hoje, quando já existe tratamento simples e eficaz, as pessoas parecem estar esquecidas dela (tuberculose)”.
Sempre que se fala em tuberculose, o que nos vem à mente? Para muitas pessoas, a ideia de uma doença já distante no tempo, que matou artistas, poetas e escritores famosos mundo afora, como o compositor e pianista polonês Chopin (1810-1849) e o magnífico escritor russo Anton Tchekhov (1860-1904). No século 19, era grande o terror em torno da doença – que o diga o brasileiro Augusto dos Anjos (1884-1914), que retratou bem esse pânico em alguns de seus poemas.
Hoje, quando já existe tratamento simples e eficaz, as pessoas parecem estar esquecidas dela. Temem a AIDS, o câncer, mas não tanto a enfermidade que todos aprendem na escola como causada pelo bacilo de Koch (também conhecido por Mycobacterium Tuberculosi) – talvez porque ignorem que um bilhão e setecentos milhões de pessoas estejam infectadas, ainda que, não necessariamente cheguem a desenvolver a doença. A proximidade com pessoas infectadas, ambientes fechados e pouco ventilados favorecem o contágio.
O recado das autoridades de saúde é sempre bem direto e cabe à população ficar de olho: tosse com mais de três semanas pode indicar a existência da infecção. Ir ao médico, fazer os exames necessários e começar a se tratar – gratuitamente, é bom lembrar - é só parte do processo: o grande desafio em curar alguém de tuberculose é fazer com que a pessoa doente não abandone o tratamento antes de ele terminar.
O problema é que o processo de cura leva seis meses e, muito antes de esse período terminar, grande parte dos pacientes começa a se sentir melhor, vê que a tosse e a febre desaparecem, e, por ignorância, acaba deixando de tomar os remédios necessários. Se todo mundo levar o tratamento assim, a chamada “recidiva” (quando a doença volta, ou o estado do paciente piora) é certa: uma contribuição para que a tuberculose passe mais 6 mil anos passeando pelo planeta.
Atitude é tudo
“O processo de cura leva seis meses e, muito antes de esse período terminar, grande parte dos pacientes começa a se sentir melhor, vê que a tosse e a febre desaparecem, e, por ignorância, acaba deixando de tomar os remédios necessários”.
Exceto pela necessidade de se manter firme no propósito da cura, o paciente tuberculoso tem grande facilidade de atingir seu objetivo – quem dera fosse assim com as outras doenças graves, não? O tratamento prevê o uso dos antibióticos isoniazida, rifaminicina e pirazinamida e, em determinada fase, pode ser feito apenas com duas doses semanais. É tão difícil assim?
É bom deixar claro, no entanto, que o germe que causa a tuberculose é bastante perigoso: ele tem a capacidade de se multiplicar e se tornar resistente aos antibióticos muito rapidamente quando está fora das células de defesa do organismo. Dentro delas, seu crescimento é um pouco mais lento. Por isso são usadas três drogas e o período de tratamento é tão longo.
Preconceito: você já viu esse filme antes
Lembra quando a AIDS começou a fazer mais e mais vítimas mundo afora, na maioria, os homossexuais, e ela começou a ser conhecida como “peste gay” ou “câncer gay”? Isso estigmatizou a doença e os doentes, o que contribuiu para grande desinformação e aumento das vítimas entre heterossexuais. E isso não acabou: recentemente o vencedor de um reality show da Rede Globo disse com todas as letras que a AIDS não atingia o heterossexual. A emissora foi notificada por esse desserviço.
O fato é que, também na época em que a tuberculose apresentava números mais preocupantes, as pessoas sofriam discriminação. Ela era considerada uma doença de “pobres”, porque, de fato, seu agente causador se prolifera melhor em ambientes insalubres e menos saudáveis, como as zonas habitadas pelas camadas mais carentes da sociedade.
Isso de ser uma doença de pobres, no entanto, é um engano completo. Assim como a AIDS, a tuberculose atinge pessoas de todas as camadas sociais. As duas doenças, aliás, estão profundamente associadas, já que o HIV, ao comprometer a imunidade humana, abre caminho para que o Mycobacterium Tuberculosi debilite ainda mais a saúde do paciente. Uma dupla perigosa.